domingo, 1 de janeiro de 2017

MENSAGEM

DO CAPÍTULO GERAL DA ORDEM DOS AGOSTINIANOS RECOLETOS


Criadores de comunhão

• Mensagem do 55º capítulo geral da Ordem dos Agostinianos Recoletos

Animados pelas palavras de nosso pai santo Agostinho, “toda nossa esperança está em tua grande misericórdia, dá o que mandas e manda o que queiras”, quarenta agostinianos recoletos vindos de diferentes países onde está disseminada a Ordem, nos reunimos para o 55º Capítulo Geral em Roma, de 2 a 25 de outubro de 2016.

A temperatura amena e a chuva dos primeiros dias de outono foram prelúdio de inicio de uma nova estação para a Ordem, tempo em que a vida se concentra nas raízes. No sossego desta casa vivemos a experiência de homens de Deus que sobem ao Monte para encontrar-se com seu Senhor e ver, de longe, o horizonte no qual se move a Ordem, sopesar suas possibilidades de vida e traçar a rota da revitalização e reestruturação. Agradecemos, sensibilizados, as numerosas mensagens e abundantes orações. Suas palavras nos confirmaram que o capítulo não era uma tarefa somente dos capitulares, mas de todos, para bem da Ordem e a Igreja.

Enquanto capitulares passamos pela Porta Santa das Basílicas de São Pedro e de Nossa Senhora do Bom Conselho para vivenciar, com a Igreja, o jubileu da misericórdia. Concentramos nossa oração nestas palavras: que se abra para nós um tempo novo… e não cessemos de admirar o horizonte imenso da esperança; que na reestruturação não vejamos montanhas que nos impedem a passagem, mas a oportunidade de explorar, conduzidos por tua mão, novas e maravilhosas rotas.

Com a alegria de sentir-nos família e poder compartilhar uma missão que proporciona vida, enviamos esta mensagem: aos jovens, por suas palavras e vídeos cheios de alegria e esperança, às fraternidades seculares, por serem para nós lar de amizade, às monjas, por sua oração constante e profunda, às religiosas, por nos recordarem a radicalidade da entrega, aos leigos de nossos ministérios, por compartilhar nossa missão, aos bispos, por nos convidar a sentir com a Igreja, e a todos os religiosos, com quem compartilhamos o sonho de santo Agostinho. É uma mensagem cheia de esperança, que supera nossas incertezas; cheia de ternura e de paz, porque o Senhor tem sido misericordioso conosco. É uma palavra comprometedora, consciente de que a tarefa ainda está por se realizar. É uma mensagem ousada, própria de quem sabe que o projeto do evangelho precisa de profetas em nosso tempo.

1.    ESCUTEMOS AO ESPÍRITO

O Capítulo Geral é um tempo de graça, de comunhão e discernimento sob a ação vivificante do Espírito, que não cessa de falar nos acontecimentos e nas pessoas. O Espírito falou-nos na reflexão e animação do processo de reestruturação por parte do conselho geral, bem como no árduo trabalho das Equipes de Reestruturação e Revitalização da Ordem. Com sua dedicação puseram em tensão e discernimento a todos seus religiosos. Muitos sinais nos diziam que este capítulo seria especial. O retrato da realidade e as medidas que tinham que tomadas despertaram em todos grandes expectativas; todos esperavam que o capítulo tomasse decisões à altura da realidade que vivemos.

O Espírito Santo também nos falou através do magistério do Papa Francisco. O ano da vida religiosa e o jubileu extraordinário da misericórdia têm sido um estímulo neste processo de revitalização. O chamado à conversão pessoal, comunitária e pastoral fazem parte de nossos projetos pessoais e comunitários. É uma interpelação a sair de nós mesmos e ir às periferias como mensageiros da misericórdia e da alegria do evangelho.

O Espírito manifestou-se na assembleia capitular. O Senhor utiliza magistralmente a voz da cada um, da nossa história, da idiossincrasia e da diversidade cultural para delinear o rosto da família e os desafios a serem assumidos no momento presente. Ninguém se sentiu dono da verdade. Falamos com liberdade. Se queremos um qualificativo para sintetizar o trabalho da sala este seria a palavra beleza. Quantas coisas boas e heroicas! Quantas verdades! Por fim, o que realmente nos apaixona do projeto de vida e missão da Ordem é a sua beleza; a beleza da comunidade e da missão, reflexos do evangelho. É a beleza do Espírito, sempre antiga e sempre nova.

2.    CREMOS NA COMUNHÃO

Enquanto beneficiários de um dom carismático para a vida e santidade da Igreja, nos perguntamos: quem somos e o quer o Senhor de nós neste momento de nossa história? Não somos uma família religiosa com crise de identidade, mas uma Ordem centenária ante o desafio da fidelidade criativa. A assembleia, em coro, não se equivoca; dóceis ao Espírito, como barro nas mãos do oleiro, confirmamos os grandes eixos que configuram nossa identidade. Como agostinianos recoletos queremos ser um presente para a Igreja e para a humanidade de hoje, sendo: discípulos do único Mestre, construtores de comunidade, amantes da interioridade, buscadores da Verdade, servidores da Igreja e profetas do Reino.

Com gratidão, recordamos o primeiro impulso da recoleção. Não podemos perder o vínculo carismático com os frades insatisfeitos que quiseram “se distinguir no serviço do Senhor”. A fidelidade criativa nos pede que traduzamos para nosso tempo os ideais da Forma de Viver: combinar na comunidade religiosa a austeridade de vida e a oração intensa e contínua com o apostolado ardente. Não faltam exemplos que confirmam que esta é realidade; e, por isto, com alegria celebramos o reconhecimento das virtudes heroicas de nosso irmão Dom Alfonso Gallegos, apóstolo da juventude.

O Papa Francisco nos tem dito o que devemos destacar neste momento: ser “criadores de comunhão”. Com nosso depoimento de comunidade viva e aberta ao que nos manda o Senhor, através do sopro de seu Espírito, poderemos responder às necessidades de cada pessoa com o mesmo amor com que Deus nos amou. Tantas pessoas estão à espera que saiamos ao seu encontro e as olhemos com essa ternura que experimentamos e recebemos no nosso diálogo com Deus. Este é o poder que levamos; não o de nossos próprios ideais e projetos; mas a força de sua misericórdia que transforma e dá vida.

A fidelidade criativa ao Espírito vai para além de termos sido chamados por Deus a segui-lo mais de perto; com gratidão e admiração contemplamos milhares de leigos que se incorporam à família agostiniana recoleta, fraternidades e juventudes que encontram no testemunho decidido e claro dos religiosos a chama que expande o lume carismático da recoleção agostiniana.

3.    GUIADOS PELA PALAVRA

A Ordem intensifica sua oração convicta de que o novo só pode vir da relação íntima com o Senhor. Nosso projeto de vida e missão é um programa pessoal e comunitário de revitalização, uma lectio divina para peregrinos seduzidos pelo Sonho de Deus. Queremos que seja Ele a nos impor o estilo, o ritmo e, com sua Palavra, nos determine a rota da nossa vida. Por isso fazemos memória do que Ele fez com o povo da Aliança, iluminando suas noites escuras e guiando seus passos.

Sai de tua terra. Como com Abraão, o Senhor nos convida a sair, a nos pôr a caminho, deixando nossa terra, o conhecido, nosso espaço de segurança e conforto (cf. Gn 12). Sair para enfrentar novos desafios e vivenciar novas experiências. Sair ao encontro de outros para afastar nossa olhar de nós mesmos. Custa-nos dar o primeiro passo em nosso longo percurso; nos afloram todas as resistências: “mas, já sou velho”, “estou bem e faço o bem onde estou”, “deixem-me sossegado”. O Senhor insiste: “sai de tua terra, põe-te a caminho, deixa-te surpreender, dirige-te à terra que te mostrarei”. Sai, não calcules teus passos nem teus dias, nem sintas falta dos bons momentos, nem dos irmãos que deixas… Olha as estrelas e contaas; conta a areia do mar! Assim será tua fecundidade. Nesta promessa está depositada a nossa fé.

Eu Sou teu Senhor. Deus conduziu seu povo pelo deserto durante quarenta anos para que compreendesse que Deus é o único Senhor, a quem se ama com todo o coração, com toda a alma e com todas as forças (Dt 6,4 ). A Ordem necessita, na reestruturação, de priores sábios, capazes de discernir os sinais dos tempos para conduzi-la com horizontes de vida. Como Moisés, encontraremos priores que expressem suas limitações: “não sei falar”, “não sei animar”, “sou incapaz do fazer tudo”... Também nos sucederão muitas coisas na trajetória da reestruturação; murmuraremos dos líderes e lamentaremos ter perdido um sem número de pequenas seguranças, mas teremos ganhado tudo se tivermos confiança na única certeza que vale a pena: Aquele-que-É é meu único Senhor.

Um coração novo. O religioso que quer se renovar não pode se conformar com uma religiosidade externa; necessita buscar a Deus de todo o coração. Os profetas desenvolveram a “teologia do coração” para educar o povo na interioridade; ensinaram-lhe a pedir um coração novo e um espírito novo, capaz de oração, criador de comunhão e comprometido com a missão. “Regressa ao coração”, é o grande grito agostiniano para que os frades vivam um processo de recoleção, pois no interior do homem habita a Verdade. Nosso coração estará inquieto até que descanse nEle.

O anúncio do Reino. Somos discípulos do Senhor e queremos ser profetas do Reino. Nosso itinerário será o mesmo do Mestre: da Galileia a Jerusalém e da Jerusalém à Galileia. Galileia representa o melhor do coração humano. Jesus anuncia o perdão aos pecadores, a libertação aos oprimidos, a saúde aos doentes e um tempo de graça para todos; desperta nos discípulos o ardor de anunciar o Reino de Deus ao mundo. É preciso subir a Jerusalém para compreender nossa consagração e missão. O Mestre pergunta-nos diretamente: “Quem sou eu para ti?” Cada qual temos uma resposta pessoal. Jesus, por sua vez, nos chama à radicalidade, a entregar a vida, a perder para ganhar, a tomar a cruz. Com a Ressurreição tudo é novo. É necessário voltar à Galileia. Nossa missão é anunciar a todos que Jesus vive e é o Senhor.

Nascer de novo. Na figura de Nicodemos encontramos o paradigma da revitalização que precisamos (Cf. Jn 3, 1-19). É um homem insatisfeito que procura vida nova na escuridão. Nicodemos converte-se em porta-voz de nossas objeções. Quantos arrazoados para não tomarmos a sério a revitalização e a reestruturação! Quantos discursos para evidenciar que não sabemos do que falamos! Jesus não perde tempo e nos reconduz ao essencial: é preciso nascer de novo. Não são suficientes os grandes ideais, nem as sãs tradições, é necessário uma mudança radical. É preciso acontecer algo diferente, ter um novo começo. A vida segundo o Espírito é como o vento, não sabes de onde vem nem para onde vai.

Ver e tocar as feridas de Cristo. Chegou o momento de passar das palavras ao compromisso. Jesus Ressuscitado pede ao incrédulo Tomé que veja e toque suas feridas para que surja a profissão de fé mais contundente de um discípulo: “Meu Senhor e meu Deus! (Jo 20, 24-29). As marcas da cruz são as feridas do mundo. Quem fecha seus olhos ao sofrimento das pessoas é um incrédulo, sua fé é vã. Como caminho de revitalização, as feridas da humanidade são uma interpelação à Ordem; esta tem que sair às periferias para curar e se curar.

4.    REESTRUTURAR-NOS PARA DAR VIDA

Queremos uma reestruturação com horizonte de vida e não de manutenção. O religioso que pode dar vida é um homem de fé que percebe o sentido profundo dos acontecimentos; um religioso livre e de coração aberto, que escuta com humildade e fala com clareza; um religioso sábio que discerne com critérios evangélicos o que há que fazer e vê para além da autoreferência, do relativismo, da vida cômoda e do desalento. Seguindo o magistério do Papa Francisco, (o religioso) tem que ser profeta comprometido na solução dos desafios e problemas de nosso tempo, recuperar o ardor missionário e ir às periferias que precisam da luz do evangelho. Não queremos uma reestruturação que faça arqueologia ou cultive inúteis nostalgias, mas que acenda a chama inspiradora do Espírito para dispor os odres capazes de acolher o vinho novo.

Para conseguir uma autêntica vivência agostiniana recoleta, unimos forças para impulsionar a vida comunitária, realizar a missão que a Igreja nos encomenda e estar onde sejamos mais necessários.

Nos próximos anos teremos o desafio de elaborar um projeto de vida e missão capaz de dar vida a toda a Ordem. Eis as palavras chaves: Não nos deixemos roubar a alegria da vocação! Apostemos por uma apaixonada pastoral juvenil e vocacional, na qual damos um testemunho alegre de nossa consagração e comunidades vocacionais.

Não nos deixemos roubar o presente! Jovens formandos, vocês são o presente da Ordem; cabe a vocês contagiar-nos com a paixão do primeiro amor, com o entusiasmo por Jesus Cristo. Nós, os menos jovens, nos empenharemos em que o itinerário formativo agostiniano recoleto seja a pedagogia que oriente todas as etapas da vida dos religiosos.

Acolhamos com carinho a nossos irmãos idosos e enfermos! Eles são testemunho de fidelidade e entrega até o final. Sua missão, misteriosamente fecunda, é indispensável na criação de comunhão e na verdadeira esperança na misericórdia do Senhor.

Não nos deixemos roubar o dom da interioridade! Somente a partir da oração intima e fiel poderemos ser homens de esperança. Quando o patrão está no centro tudo é possível! Não conta nem o fracasso nem qualquer outro mal, porque Ele é quem nos conduz. Cuidar da oração comum é o nosso compromisso. 5

Não nos deixemos roubar o ideal do amor fraterno! O processo de reestruturação precisa mais que nunca do unguento e do orvalho, da doçura e da delícia da convivência dos irmãos unidos. Temos sido interpelados a ser “homens de esperança” e “criadores de comunhão” nos detalhes da vida diária com uma relação mais cordial e uma comunicação mais profunda e assertiva.

Não nos deixemos roubar a alegria evangelizadora! Reavivemos o ardor pela missão, como o fizeram os primeiros recoletos. Fortaleçamos nossa presença nos territórios de missão; abramos novas presenças significativas capazes de vida em todos nós. Reavivemos nosso zelo pastoral nas paróquias e centros educativos, e em missão partilhada com os seculares.

Não nos deixemos roubar o profetismo! Apostamos por uma Ordem mais solidária e comprometida com os mais pobres da sociedade. Ponhamos ao serviço dos necessitados nossa riqueza institucional, com presenças e ações concretas.

5.    TODA NOSSA ESPERANÇA ESTÁ EM TUA GRANDE MISERICÓRDIA…

Senhor, que imprevisível és; trazíamos a ti o programa pronto e enchestes nossos alforjes de surpresas. Vínhamos defender e cuidar daquilo que nos destes, daqueles que professaram conosco e com quem sempre vivemos, e nos destes um coração tão grande como o teu, no qual cabem todos. Pretendíamos não complicar muito as coisas, e nos empurraste para o mundo para ser “mensageiros de esperança” e “criadores de comunhão”. Já temos um projeto de vida e missão. Dá-nos o arrojo para vivê-lo com compromisso e alegria.




Jornal Online “A Voz de Lourdes” – Janeiro de 2017
Compilação e Edição: Sérgio Bonadiman - Revisão e Publicação: Dermeval Neves
Responsabilidade: PASCOM Paróquia Nossa Senhora de Lourdes - Vila Hamburguesa – SP
Site da Paróquiahttp://www.pnslourdes.com.br