sábado, 6 de agosto de 2016

NO CAMINHO DO DISCERNIMENTO VOCACIONAL

Assim crê o cristão: a vocação é chamado de Deus e resposta do homem. O chamado é exigente porque envolve-nos por inteiro, sendo necessário um profundo discernimento para podermos identificar e realizar a vontade de Deus em nossa vida. Encontramos no dicionário Aurélio a seguinte definição para discernimento: “Discernir é distinguir com clareza; diferenciar: demonstrar entendimento em relação a; ter a capacidade para entender (algo ou alguém); compreender” (Aurélio, 2009).

O discernimento vocacional é este processo de descobrimento da vontade de Deus, uma conversão interior para abraçar um estado de vida. Para se levar a cabo o discernimento vocacional, o primordial é falar a verdade a nós mesmos. Um discernimento onde a verdade não se faz presente, há o perigo de ocorrer num autoengano e este é um obstáculo à ação de Deus. É autoengano porque há interiormente uma contradição.

Quantos são os matrimônios que chegam ao fim em apenas poucos meses? Por que tantos casais se separam dentro de poucos anos? Na vida religiosa e sacerdotal não é diferente. Quantos são os casos de religiosos, religiosas, padres que, aparentemente estão felizes e realizados e de um momento a outro abandonam a consagração. O que os leva a isso?

Nossa juventude (ou geração Y) nasce em meio a um universo onde facilmente se mascara a verdade e as decisões são tomadas sem autoconhecimento. Vejamos os perfis no facebook. Mascara-se facilmente de onde somos, o que estamos fazendo, onde estamos e até mesmo como nos sentimos naquele dia;  porém, quem somos não há como mascarar. 

Santo Agostinho, mestre da interioridade, afirma que, no caminho do discernimento, é preciso interrogar o coração antes tomar uma decisão. Em suas palavras, “leva seu coração a convencer-se, interrogando-o para saber se faz isso realmente por amor a Deus ou por amor a si” (Ep. Lo tr. 6, 2). Não podemos esquecer que ao longo do caminho surgem obstáculos e o desejo de procurar por trilhas. Estas são tentadoras, desejosas de tirar-nos do caminho.

Um bom discernimento vocacional busca sempre a Deus e aos seus planos e nunca ao meu e meus caprichos. Toda vocação deve ser encarada como serviço aos irmãos e, como tal, é dom que possui mais sentido à medida que for entregue ao outro. O sacerdote não é sacerdote para si, o esposo e a esposa são os são para si: toda vocação é para o outro. Ao tomarmos consciência disso, a vocação foi assumida verdadeiramente por nós.

Um sacerdote que acredita ser a vocação uma posse sua ou o casal que crê estar casados para ser feliz, está enganado. Consagra-se ou entrega-se em matrimônio a fim de fazer o outro feliz e, na medida em que o outro está feliz, realizo minha vocação. Não é por escutarmos a voz de Deus e respondermos a Ele, decidindo-nos por uma vocação, que estaremos isentos das dificuldades.

O mais belo exemplo são os coqueiros. Desde o plantio, para que o broto possa despontar, é preciso romper a dura casca do coco e, rompendo-a, terá a árdua tarefa de empurrar toda a terra que há em cima para despontar viçosa. Mas, até dar seus frutos, deverá passar por grandes provações: o sol quente, as pragas, a seca e uma série de adversidades externas que atentarão contra seu crescimento; porém, o pior dos inimigos é o vento. Por que o vento?

Quando o coqueiro vê-se desafiado pelos fortes ventos, busca forças internas para vencer e, para isso, necessita aprofundar suas raízes. Quanto mais forte os ventos, mais o coqueiro desafia-se e aprofunda suas raízes na terra. O desafio imposto pelo vento é duplo: se este não investisse contra o coqueiro desde o início, a planta não teria profundidade necessária para, na fase adulta, vencer as grandes tempestades. O obstáculo que o vento impõe ajuda o coqueiro a ficar forte o bastante. Coqueiro que não leva investida do vento, não aguenta uma brisa sequer.

O mesmo acontece na vocação. Se o coqueiro desistisse na primeira brisa, desabaria no chão e, com as raízes expostas, morreria. Quanto maior o desafio, mais fortalecido sairá das batalhas.

Frei Rhuam Ferreira Rodrigues de Almeida,OAR

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Jornal Online “A Voz de Lourdes” – Agosto de 2016
Compilação e Edição: Sérgio Bonadiman - Revisão e Publicação: Dermeval Neves
Responsabilidade: PASCOM Paróquia Nossa Senhora de Lourdes - Vila Hamburguesa - SP
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